RESENHA: VÍCIOS E VIRTUDES
RODRIGUES, Nelson. Os Noivos. In: A vida como ela é.... Rio de Janeiro: 1961.
A obra foi escrita primeiramente para uma coluna de
um jornal no período entre 1951 e 1961, quando foi publicada em um livro
chamado “A vida como ela é...” junto às demais obras publicadas na coluna. É um
conto feito pelo dramaturgo Nelson Rodrigues representando a sociedade carioca
e seus costumes tendo como plano de fundo as relações familiares e amorosas,
levando o questionamento do homem quanto à maneira com que ele se submete a
costumes de forma irracional.
A obra é dividida em oito partes, cada uma delas
demonstra uma maneira de se ver a situação dos personagens, desde sua pureza
até a tolice. Essa divisão também nos proporciona sentimentos diferentes
dependendo da situação do personagem.
A primeira parte é a introdução da obra, em que
Salviano é instruído por seu pai a honrar costumes relacionados a pureza do
relacionamento, instrução esta dada não de forma autoritária, mas sim em
conselhos que são adotados por Salviano através de sua submissão, respeito e
admiração que tinha ao seu pai, o conselho era que não tivesse relações sexuais
com sua noiva, mas exemplificou o conselho com um beijo, que por muito dar se
enjoaria, perderia segredos e interesses um no outro, mas este conselho foi absorvido
de forma literal por Salviano.
Salviano era adulto, transparente em sua vida, tudo
quanto pensava ou sentia falava para sua noiva ou seu pai, já tinhas suas
próprias convicções, mas uma dessas convicções era a extrema confiança que
tinha em seu pai.
Notário é o nome do pai de Salviano, este tinha como
característica principal sua autoridade, falava de forma extremista quanto à
princípios, ele fumava dando a ele um aspecto de homem com maturidade.
A segunda parte da obra é chamada de “A Sombra
Paterna”, em que Salviano diz a sua noiva sobre a conversa com seu pai, nesse
instante é apresentado ao leitor a noiva de Salviano.
Edila, era a noiva de Salviano, tinha atitudes e
aparências que a caracterizavam como frágil e juvenil, mas tinha personalidade
bem segura, escondia seus pensamentos sobre determinados assuntos para manter
sua boa imagem.
Antes que
Edila expressasse sua opinião sobre a conversa Salviano expressa sua admiração
a seu pai, após isto Edila confirma as qualidades de seu sogro não querendo
confrontar seu noivo. Salviano antes de ir fala asseguradamente que seu pai não
é falho.
A terceira parte do texto é intitulada “O Beijo”. A
mãe de Edila também resolve exortá-la quanto aos perigos do namoro, colocando o
prazer do beijo como um aspecto ruim, tendo na verdade uma preocupação quanto
ao que o beijo levaria que é à relação sexual, que de acordo com os princípios
da época feita antes do casamento é um erro.
A quarta parte “O Edílio” é caracterizada pelo
aspecto romântico, mas um romantismo visto apenas de forma isolada, pois em
conjunto com a obra é visto como hipocrisia. É revelada nesta parte da obra a
pureza e limitações do namoro entre Salviano e Edila, encarado pelos dois de
forma paciente, sem fugas do direcionamento pai de Salviano. O namoro além de
deixar o sexo para o casamento, também se abdicou dos beijos.
Salviano apesar de seguir os conselhos de seu pai
deixava transparecer suas necessidades e desejos, mas sua noiva negava seus
desejos e mentia quanto as suas opiniões, preservando a imagem de boa moça, e
se diferenciando das demais mulheres.
Na parte denominada “O Velho” da obra, é exposta a
proximidade de Salvino com seu pai, que tinha o costume de prestar contas sobre
tudo a seu pai desde criança. Demonstra que os elogios que dava ao seu pai nas
conversas com Edila, refletiam admiração da parte da moça.
Então no trecho denominado “Catástrofe”, o médico da
família de Edila vai ao emprego de Salviano, e diz de forma objetiva que sua
esposa esta grávida à três meses, condicionando o noivo a milhares de
questionamentos, quebrando milhares de pilares erguidos em confiança por sua noiva.
Antes de falar a sua noiva, Salviano foi a casa do pai lhe dar satisfações e
buscar conselhos, demonstrando sua extrema dependência e fragilidade.
Na penúltima parte chamada “Misericórdia”, o pai de Salviano
lhe diz para perdoar sua noiva, e que não deveria puni-la e sim o homem
responsável pela gravidez, acusando o ex-namorado de Edila, o Pimenta.
Na última parte chamada “O Inocente”, Salviano mais
uma vez segue os conselhos de seu pai e retira o ódio que sentia por sua noiva
e coloca no homem responsável pela gravidez. Ele questiona Edila sobre quem
teria sido o amante, se teria sido seu ex-namorado e esta não responde, então Salviano
sai à procura de Pimenta e o mata, logo em seguida comete suicídio.
O velório ocorre na casa do pai, e na madrugada do
velório ainda com outras pessoas na casa, Notário pai de Salviano, escondido dá
um beijo em Edila e afirma ter sido melhor da forma com que aconteceu, pois
ninguém desconfiaria de nada.
A palavra desconfiança que aparece no final da obra
dita por Notário, faz contraste com a confiança que seu filho tinha nele. A
obra tem como objetivo revelar a importância do raciocínio em todas as
atitudes, ela busca um aconselhamento sobre o direcionamento que nos é dado
através de costumes, famílias e religião.
A obra é uma critica aos costumes de influencia
religiosa, e apesar de comparar Notário com a Bíblia e o sexo com o Diabo, não
tem como objetivo criticar a Bíblia já que a mesma nos aconselha a não confiar
no homem:
”Assim diz o Senhor: Maldito o homem
que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do
Senhor!”Jeremias 17:5
O texto critica a ignorância com que os costumes
regem a sociedade. A racionalidade é tão exaltada que o verdadeiro amante é
revelado pelo próprio autor na obra e mostra que apesar de ser um drama tem
como objetivo o aconselhamento e seu reflexo na sociedade e não o
entretenimento.
REFERÊNCIAS:
A vida como ela é... – Wikipédia, a enciclopédia
livre. 2013
Bíblia
Sagrada – Jeremias